Era a noite da terça-feira 10 de junho de 1975 e o Fluminense levava 60.100 pagantes ao Maracanã – na verdade, não menos de 100 mil almas, com os caronas – para assistir a badalada estreia de Paulo Cézar Lima, trazido, pelo irrequieto presidente Francisco Horta, do Olympic da sa Marselha.
Fora o prélio de número 2.804 da história do time tricolor, que balançara a rede aos oito minutos do primeiro tempo, quando Rivellino aplicou o drible do elástico em dois adversários, à entrada da área fatal deles, e lançou Kléber, que chutou para fora, mas contou com a sorte de o artilheiro do time visitante, Gerd Müller, desviar a bola para a rede.
Embora o Bayern tivesse contado com o “jogador símbolo do futebol alemão’ – Franz Beckenbauer – e a base da então seleção campeã mundial, o dono da noite foi o ponteiro-direito tricolor, Cafuringa, que entortou os adversários, que perguntaram porque o treinador (Mário Jorge Lobo Zagallo) da Seleção Brasileira não o levara para a Copa do Mundo de uma temporada antes, pois o acharam muito melhor do que o usuário da camisa 7 canarinha (Valdomiro, do Internacional-RS) naquele Mundial.
Realmente, Cafuringa armou um circo em campo. Para ele, fora como se o Bayern não asse de um timinho qualquer, nada que o fizesse acreditar estar diante do bicampeão europeu de clubes, que havia mandado 4 x 0 Atlético de Madrid, na final de 1974, e 2 x 0 no inglês Leeds United, há um mês da bisagem.
Assim que o árbitro Arnado César Coelho ordenou bola rolando, um entusiástico Flu foi pra cima, imprensou o visitante que se defendeu como pode, principalmente, dos inspiradíssimos Cafuringa, Rivellino e Mário Sérgio. Eles arrepiaram e fizeram o show continuar por todo o segundo tempo, com os alemães só assistindo, sem nada poderem fazer, a não ser o milagreiro “São Maier”, que evitou goleaeda e surpreendeu-se ao saber que a Máquina Tricolor – apelido do então Flu – não fosse campeão sul-americano e nem brasileiro.
Dettmar Crammer, o treinador do Bayern, saiu de campo impressionado com Cafuringa. Só não mais do que o escritor Nélson Rodrigues, que o elogiou, em crônica pelo Jornal dos Sports. Pena que o ponteiro só não tivesse acertado a rede. Se tivesse aproveitado tudo o que perigara, nem o endiabrado Mané Garrincha teria jogado tanto quanto ele naquele gramado.
Treinado por Paulo Emilio e escalado no 4-3-3, o Fluminense teve: Felix; Toninho Baiano, Silveira, Assis e Marco Antônio Feliciano; Zé Mário, Kléber e Rivelino; Cafuringa, Paulo Cézar Lima (Manfrini) e Mário Sérgio, que usaram a camisa com listras verticais em vermelho, grená e branco divulgando o Mobral, antigo programa brasileiro de alfabetização.
O amistoso rendeu Cr$ 1 milhão, 162 mil, 187 cruzeiros e 50 centavos e o Bayern Munique trouxe uma constelação: Maier; Dunbergr, Schwarzenbeck, Beckenbauer e Weiss; Roth, Tortesson e Rummenigge; Zobel, Gerd Müller e Kapellmann – os grifados haviam sido campeões mundiais da Copa-1974 e bicampeões europeus por clubes, e eu, naquele dia, iniciava a minha vida de jornalista profissional. Hoje, a encerro. Bbbyyy!