Nas últimas semanas, as redes sociais fervilharam com o termo “BOYCETA”. A discussão tomou grande grandes proporções, suscitando diversas opiniões e reações.
Cada indivíduo é subjetivo e tem o direito de ser o que julgar apropriado para si, desde que não viole os direitos de terceiros. Pelo que me consta, a pessoa no centro desta controvérsia não feriu o direito de ninguém.
Foucaut (1988) já afirmava que a sexualidade é um constructo, até então visto sob a ótica da repressão. Na perspectiva de Foucault, a sexualidade é social e historicamente construída, ou seja, depende da cultura e das relações sociais estabelecidas. Isso possibilita pensar em diferentes formas de viver e de construir identidades de gênero e sexuais.
De acordo com a obra “Reflexões sobre a diversidade de gêneros” da Câmara dos Deputados, nos anos 60, movimentos sociais, como o dos negros e o das mulheres, deram origem aos estudos de gênero e raça. Posteriormente, na década de 90, nos Estados Unidos, vieram as discussões sobre diversidade.
Qualquer local onde convivem pessoas com identidades grupais e significações culturais distintas constitui um sistema social em que há diversidade. Nesse espaço, pessoas com identidades diferentes interagem num mesmo sistema social, no qual coexistem grupos de maioria e de minoria. Entre eles, grupos das mulheres, dos idosos, das pessoas negras, das pessoas com orientação sexual homoafetiva e as com deficiência.
Assim, confesso que não compreendo muito o debate nas redes sociais – gênero, assim como muitas outras coisas, é uma construção social, e como tal, interessa-me apenas saber quem é o arquiteto desse projeto e qual seu objetivo com tal proposta.
Vi diversas manifestações sobre o tema, mas a que mais me chamou atenção foi de uma doutora (lembrando que Doutor é quem tem doutorado) afirmando a existência de vários estudos científicos a respeito do tema no Google Acadêmico.
Sim, foi isso que você leu: diversos estudos científicos no Google Acadêmico. Curioso que sou, fui até a citada plataforma em busca dos “diversos” ESTUDOS científicos. Achei 39 resultados ao digitar o termo “boyceta” e nenhum ESTUDO e sim, 39 artigos, corroborando assim minha tese de que se trata de uma construção social e ponto.
Atualmente comentar em uma rede social, por exemplo, que não se gosta de brócolis parec ser o mesmo que dizer “EU ODEIO TODAS AS PESSOAS QUE GOSTAM OU COMEM BRÓCOLIS”, gerando uma comoção imediata por parte dos amantes de brócolis, que imediatamente partem para agressões pessoais, em especial, por não terem capacidade cognitiva de debater o tema de forma democrática, pacifica e embasada cientificamente.
Do ponto de vista psicológico, é claro que a nova geração tem uma necessidade identitária, sempre em busca de rótulos para se sentir pertencente a algo. A fragilidade emocional apresentada por pessoas que, a cada dia, chegam aos nossos consultórios com os mais diversos “pronomes” como identidades ou personas de uma peça grega é assustadora. E para piorar, muitos têm migrado para as universidades, criando cenários abstratos originados de uma matriz identitária que já não seduz ao mundo real.
Volto a dizer: cada um tem o direito de ser o que quiser, mas isso não significa que eu seja obrigado a aceitar uma imposição para também me rotular; ou pior, por não ser ou concordar em ser algo, o a inimigo antidemocrático (palavra em moda usada por aqueles que impõem sua forma de pensar aos que não aderem ao pensamento imposto).
Não preciso me rotular, preciso respeitar o direito de ser de cada um, enfrentar a discriminação e lidar com a desigualdade. Isso significa respeitar indivíduos e grupos, e também demonstra vontade de contribuir para o crescimento e o desenvolvimento das pessoas.
A diversidade humana tem duas dimensões: as primárias, que são natas e imutáveis, ou seja, não são íveis de escolha; e as secundárias, que podem mudar ao longo de nossas vidas. As nossas diferenças formam conjuntos únicos de atributos, características e visões distintas de mundo.
A sociedade evolui ao longo dos anos, ainda que lentamente, mas ainda há muito a ser conquistado. Contudo, não devemos aceitar construções sociais impostas. Afinal, se critico a discriminação, não posso discriminar. Não podemos cair no velho padrão do oprimido que sonha em ser opressor.
E para sanar a curiosidade daqueles que não sabem o que é “boyceta”, trata-se de um termo originado em uma “batalha” de rap em São Paulo, que, no final das contas, significa uma pessoa que gosta de GENTE. E a palavra gente é, atualmente, entendida como sendo uma pessoa, e pessoas podem ser sexualmente classificadas como do sexo feminino (com vagina/vulva), do sexo masculino (com pênis) ou intersexuais (casos raros em que existem genitais ambíguos ou ausentes).
Ou seja, somos todos seres humanos, e ser humano (Homo sapiens) é o termo utilizado nas ciências para caracterizar a espécie viva evolutiva que se difere das demais por possuir inteligência e razão. Será?
Até a próxima…